
Foi pedido a várias estrelas que fizeram história no Benfica para olharem para estrelas que vão pondo, agora, em fulgor o momento que o Benfica passa – o que todas elas viram foi Roger Schmidt em lampejo (por ter a personalidade que tem, por ter lançado ao jogo da equipa a ideia de jogo) que levou a que num ponto todas essas estrelas coincidissem: que a estrela maior da equipa é a equipa.
Porém, o que dá mais interesse aos olhares de Álvaro Magalhães, António Simões, João Alves e Toni são as diferenças que adiante se poderão descobrir…
As perguntas são as mesmas para todos, eis as respostas de Toni.

Espanta-o o atual momento do futebol do Benfica?
Espanto não é o sentimento exato, direi, sim, que com a chegada de um treinador novo e com novos jogadores não era fácil a tarefa para a caminhada que acabou por ser trilhada até agora… E digo até agora porque gosto mais de fazer as análises no final das temporadas – e não acredito que o treinador deixe que essa euforia perpasse dos adeptos e das bancadas para balneário e jogadores, mesmo estando a equipa a jogar tão bem, tão bem como se calhar poucos imaginariam.
Quem é o principal responsável por este momento?
Principal responsável por este bom momento do Benfica, é o responsável por todos os bons momentos no futebol. Os bons e os maus. E não, não é apenas um, são dois: presidente e treinador. Para além deles, nesta equipa, a grande força do Benfica tem sido o seu coletivo e dentro do coletivo houve várias peças que emergiram, uma delas até já saiu, o Enzo. E isso é indiscutível: deve-se a liderança imprimida pelo treinador e a ideia de jogo que os jogadores, os que já cá estavam e os que tinham acabado de chegar, assimilaram rapidamente e foram consolidando.
Qual é ou quem são as grandes figuras deste Benfica?
A grande figura deste Benfica é o coletivo! Depois há vários jogadores que poderão ser chamados a destaque. O Gonçalo Ramos. O João Mário, que está a fazer a melhor época de sempre. O Grimaldo que está, igualmente, a fazer a sua melhor época de sempre. O Otamendi pela capacidade de liderança, importante no que joga e no que lidera. E a revelação que foi o António Silva, aparecendo a resolver a lesão do Morato… Sim, é a grande revelação por que há menos de um ano ainda estava numa entrevista no Canal 11 a falar dos quartos de final da Youth League e de repente… aconteceu-lhe o que sabe e passou até já pelo Mundial do Catar. Mas insisto: se tiver de escolher uma figura, elejo o coletivo – porque o coletivo é que faz emergir as individualidades.
Que ponto mais negro já viu ou ainda vê na equipa e no seu futebol?
Todas as equipas têm todas pontos fortes e pontos fracos – e naquilo que hoje se chamam as transições defensivas penso que, algumas vezes, a equipa torna-se vulnerável, nesse ponto. Sim, impressionante é o modo como o Benfica pressiona, como marca, como reage à perda da bola, como tem sempre a baliza adversária perto dos olhos de quase todos os seus jogadores, como tem boas ideias na construção mas… não sendo ponto negro, dir-lhe-ei que ponto mais fraco é mesmo esse: a transição defensiva em que por vezes se vulnerabiliza – e ter laterais com tão grande propensão ofensiva que, noutras vezes, deixam aos adversários, espaços para aproveitar.
Qual o jogador mais parecido com o jogador que você foi que há neste Benfica?
Uma das piores coisas que se podem fazer no futebol, é compararem-se jogadores e tempos. Por isso faz-me sempre uma certa urticária ver-se a tentação para se comparar, por exemplo, o Eusébio com o Ronaldo. Sendo ambos extraordinários, os tempos são diferentes, as bolas diferentes, as chuteiras diferentes, tudo diferente… Nos últimos 50 anos muito mudou – no mundo e no futebol. No meu tempo não havia havia 6 como há agora, o modo de construção era diferente – e, por isso, o máximo que lhe posso dizer é que no Enzo Fernández vi duas ou três coisas que havia em mim…
Qual o treinador que passou pela sua vida que considere mais parecido com o treinador que Roger Schmidt é?
Treinador mais parecido com Roger Schmidt, outra comparação difícil – apesar de já se ter percebido: a primeira tentação é Eriksson. Quando Eriksson chegou, em 1982, introduziu a bola logo no primeiro treino – e foi o primeiro sinal de romper com o que se fazia até ali. Assentou o seu sistema no 4x4x2 porque tinha os jogadores ideais para isso. Não sei, sinceramente, se Roger Schmidt tivesse chegado um ano antes – se estaria a fazer o que está a fazer agora tão bem.
Eis as respostas de António Simões.

Espanta-o o atual momento do futebol do Benfica?
Confesso que há uma fatia de mim surpreendida, mas, depois, quando começo a perceber o que está a ser feito – deixa de haver surpresa para haver grande satisfação. E, para isso, há o que comecei a ver, num ápice, nesse senhor chamado Roger Schmidt: outras qualidades, outras inteligências. Uma delas é o bom senso permanente na sua observação, na sua interpretação, no falatório que tem. Sabe comunicar, tem uma calma relação de exigência no treino. Pode parecer que tem um olhar menos amistoso no trabalho mas, depois, vai aos afetos, trá-los todos e quando tiver que os dar, dá. É, no fundo, simbiose mais adequada não apenas para o futebol de hoje, mas para a sociedade de hoje. E, de tudo isso, de todas essas circunstâncias, sucedeu que o adepto do Benfica não passou a ter uma esperança, passou a ter uma convicção: vamos ganhar!
Quem é o principal responsável por este momento?
Vou de cima para baixo porque entendo que todos têm a sua fatia de responsabilidade. Nós temos a tendência para responsabilizar acima de tudo quem manda, seja para o mal, seja para o bem. E, neste caso, sendo para o bem, primeiro responsável é Rui Costa, o presidente que escolheu o treinador – o treinador que fazendo o que fez criou a ideia de se poder chamar-se-lhe já o… dono disto tudo. Ou seja, é quase impossível que alguém venha pôr em causa esse senhor Roger Schmidt que nos aparece, resolve mudar a mentalidade desportiva, cultural, técnica, profissional, etc, etc… fazendo, com bom senso e sem receios e que, agora já tem os benfiquistas a pensar: como é que vamos chegar à final da Champions? Sim, esse é outro dos seus maiores méritos de Roger Schmidt: fazer com que os benfiquistas já não vão para o estádio desconfiados!
Qual é ou quem são as grandes figuras deste Benfica?
Neste Benfica o rei não existe. Eu conheci para aí uma dúzia de reis no futebol – e este Benfica não tem nenhum, mas apetece-me dizer que esta equipa do Benfica não tem rei, pois todos são príncipes, cada um à sua maneira. E com o estatuto de príncipes, que os faz jogar muito bem, quase diria que são todos iguais, respeitando as devidas diferenças. O quero dizer com isso, é: cada um à sua maneira, com a sua personalidade, com o seu perfil de jogador, todos resolveram juntar-se e serem úteis e tolerantes uns para os outros. Vendo todos os jogadores do Benfica assim, há uma pergunta que se solta nos outros: como é que a gente os vai parar?! E essa é a grande dúvida, a grande luta, de quem se começa a sentir impotente para travar este Benfica.
Qual o jogador mais parecido com o jogador que você foi que há neste Benfica?
É difícil, mas… Sou capaz de ir buscar o Neres. Eu fazia o que ele vai fazendo cada vez mais, não com o pé esquerdo mas com o pé direito e não tinha receio de arriscar em ir para cima do defesa. Ele faz isso bem, sempre à procura de, indo para dentro, encontrar melhor ângulo para finalizar.
Qual o treinador que passou pela sua vida que considere mais parecido com o treinador que Roger Schmidt é?
Fernando Riera, o chileno que sucedeu a Béla Guttmann após a conquista da segunda Taça dos Campeões. O treinador mais culto que tive em toda a minha vida, o treinador que estava muitos anos à frente do tempo. Se com Guttmann era… passa e repassa e centra para golo e psicologicamente foi o melhor que tive, Riera já queria que a bola circulasse de uma ponta a outra, que toda a gente tocasse nela antes dela entrar na baliza. Figura calma e de bom relacionamento, muito culto, foi com ele que aprendi a pensar o jogo, vendo sempre à frente em todas as situações e não apenas no jogo…
As respostas de João Alves, o ‘luvas pretas’.

Quem é o principal responsável por este momento?
Principal responsável por este grande momento já se percebeu: é o o treinador, embora não podendo esquecer o grande mérito que tem de se dar ao presidente e à estrutura por ter permitido fazer crescer a equipa como a equipa cresceu este ano.
Qual é ou quem são as grandes figuras deste Benfica?
Em relação aos jogadores, não julgo que se possa falar numa grande figura – porque há várias grandes figuras. Porém, há uma que é inquestionável, porque este Benfica vive muito do seu coletivo: o Aursnes. Depois, há vários outros a destacarem-se, ao fim e ao cabo quase todos os jogadores – e esse é que é o grande problema para os adversários! O Benfica tem um lateral esquerdo que tem sido das peças mais importantes, tem uma dupla de centrais que se completam, parece que foram feitos um para o outro. Tem o David Neres à direita ou à esquerda com uma criatividade impressionante, uma qualidade notável. E lá na frente, uma dupla espetacular: o Gonçalo Ramos que deu ao Benfica a lufada de ar fresco que o Benfica bem precisava, com a sua juventude e irreverência, com a sua vontade incrível de querer superar-se – e tem o Rafa que é realmente quem desequilibra e não há muitos no campeonato como ele. E ainda tem o João Mário que tem sido uma peça fundamental até como finalizador, o jogador que dá qualquer coisa de diferente ao meio campo do Benfica, que transforma o 4x4x2 em 4x2x3x1, que ajuda a equipa a ter nuances táticas que, durante os jogos, baralham e atormentam os adversários que sentem essa mudanças…
Qual o treinador que passou pela sua vida que considere mais parecido com o treinador que Roger Schmidt é?
A minha escolha vai admirar as pessoas: treinador mais parecido com Roger Schmidt que eu tive? José Maria Pedroto! Não tem, obviamente, nada a ver com a comunicação que se deita cá para fora, com o estilo – mas tem tudo a ver com a capacidade e a argúcia, a inteligência e a sabedoria, para se fazer o aproveitamento máximo das caraterísticas de cada jogador, a construção de uma verdadeira equipa, dando importância ao meio-campo, querendo que os jogos se comecem a ganhar aí, com um futebol total, de criatividade, de diversidade.
Álvaro Magalhães não tem dúvidas: Roger Schmidt tem feito um trabalho notável mas o antigo jogador dos encarnados, também elogiou Rui Costa pela aposta que fez no treinador alemão.

Quem é o principal responsável por este momento?
A responsabilidade principal deste grande momento começa, evidentemente, na administração e estrutura – e acima de tudo na escolha que Rui Costa fez do treinador. Roger Schmidt veio incutir na cabeça dos jogadores que sem disciplina e sem rigor, sem trabalho e sem empolgamento – pode ter-se talento, mas não se tem, certamente, muito sucesso. E esse foi o clique fundamental que levou a que o melhor Benfica voltasse ao que o Benfica tem de ser.
Qual o treinador que passou pela sua vida que considere mais parecido com o treinador que Roger Schmidt é?
Treinador que tive mais parecido com Roger Schmidt… Eriksson! Como ele, um treinador que não tem medo, que não tem receio. Que coloca a equipa a defender bem e a atacar melhor. Que tem princípios de jogo bem definidos e, apostando num 11 vai com esse 11 até ao fim, até onde lhe for possível. O Eriksson também era assim – e não: Roger Schmidt não me surpreendeu! Acreditei sempre que um estrangeiro com liderança forte teria sucesso no Benfica, os maiores problemas do Benfica não tinham sido a falta de talento, tinham sido a liderança.