
Sublinhar a excelência da “fábrica de talentos” do Benfica foi o que o portal “The Athletic” fez na reportagem publicada no dia 15 de fevereiro, na qual nomes como João Félix, João Cancelo, Rúben Dias, Bernardo Silva, Gonçalo Guedes, António Silva, Florentino e Gonçalo Ramos emergiram como exemplos do notável trabalho realizado no Benfica Campus ao longo dos anos.
Acedendo a todas as áreas da infraestrutura no Seixal, compreendendo metodologias de trabalho e observando sessões de treino, o portal inglês percebeu in loco a importância dada a um processo que conduz ao principal troféu que a Formação do Benfica pode alcançar: estrear um jogador na equipa principal.
“Podemos ganhar o Campeonato de Sub-15 – é objetivo e importante –, mas o real troféu é quando esses jogadores atingem os seus sonhos, quando jogam pelo Benfica no Estádio da Luz e veem a águia. Não há melhor sentimento. Sabemos que é muito impactante para eles, mas também para nós”, descreveu Pedro Marques, diretor técnico do Futebol de Formação do Sport Lisboa e Benfica.
“[Estreia de jovens da formação na equipa principal] Dá-nos arrepios quando pensamos nisso e vemos os miúdos”, acrescentou Pedro Marques.

“Podemos ganhar o Campeonato de Sub-15 – é objetivo e importante –, mas o real troféu é quando esses jogadores atingem os seus sonhos, quando jogam pelo Benfica no Estádio da Luz e veem a águia”
Pedro Marques
A presença de jogadores como António Silva, Florentino, Gonçalo Ramos e Gonçalo Guedes, com regularidade, na equipa principal é motivo de orgulho, como realçou Rodrigo Magalhães, coordenador técnico da Iniciação do Benfica, que deu conta de um sonho: “Ter pelo menos seis ou sete jogadores a jogar regularmente na primeira equipa, vencer a Liga dos Campeões e um, dois ou três deles vencerem a Bola de Ouro.”
A forma como o Benfica efetua a sua prospeção foi abordada com base no nome de João Félix. Rodrigo Magalhães (na foto abaixo) recordou como o avançado foi recrutado, detalhando como as águias captam talento por todo o País.

Uma operação em constante movimento que envolve mais de 500 jogadores ligados ao Clube, 115 treinadores e mais 90 elementos de staff, que vão desde as áreas da nutrição ou da fisiologia à medicina, ou psicologia. No Benfica Campus, onde vivem 90 atletas, são nove campos de futebol à disposição, assim como um vasto conjunto de complementos que em nenhum momento descura a escola e o processo formativo dos atletas enquanto homens.
“O Benfica é único ou diferente de muitos outros clubes, pois o projeto é realmente de longo prazo ao nível da sua academia. Não compramos os melhores Sub-16 ou Sub-17 da Europa ou do Mundo, esperando que dentro de dois ou três anos possam atingir a equipa principal. Essa é a estratégia de outros clubes. A nossa forma [de atuar] é a de ter contacto com os jogadores desde tenra idade, ligando-os ao Benfica e isso começa nos cinco Centros de Formação e Treino, além de Lisboa, que temos por todo o País [Vila Real, Braga, Aveiro, Viseu e Faro]”, destacou Pedro Marques.
O diretor técnico deu mesmo os exemplos de António Silva e Gonçalo Ramos. “Gonçalo Ramos e António Silva começaram nesses centros de talento. O António Silva em Viseu e o Gonçalo Ramos em Faro. Isso mostra bem o tempo que estão connosco e o tempo que demora, nunca é uma linha direita”, reforçou.
“Sabíamos e sentimos que António Silva podia chegar ao nível da primeira equipa, que poderia ser um titular no futuro, mas não consigo nomear uma pessoa que dissesse que esperava vê-lo a chegar, jogar, manter-se como titular e seguir, jogar a Liga dos Campeões com tão pouca idade. Isso só pode ser inspiração para todos“, atirou Pedro Marques.

Filipe Coelho (na foto acima), treinador da equipa de Sub-19, explicou a “forma positiva de jogar”, assente na matriz tática do 4x3x3 e numa filosofia comum. “É importante ter as linhas [de atuação e estratégicas] que temos”, frisou.
Nick Chadd, head of sports science and strength and conditioning, contratado ao Manchester City, enalteceu precisamente o nível de compromisso dos jogadores com o Clube. “Quando olho para os jogadores e staff, vejo que o seu compromisso é incrível. Vejo os jogadores a apoiarem diferentes equipas de outros grupos etários, diferentes desportos, vejo-os nos jogos da equipa feminina de futebol: são verdadeiros adeptos do Clube, tal como jogadores”, afiançou.
A componente psicológica, como outras, não é descurada em nenhum momento, e Filipa Jones (na foto abaixo), psicóloga que trabalha com a equipa B do Benfica, considerou “importante” a presença junto das equipas. “Estar presente é muito importante, pois podemos falar com os jogadores, ouvir a sua perceção sobre algo que aconteça com eles. […] Às vezes o seu comportamento não corresponde ao que pensam”, disse.

Francisco Machado, lateral-esquerdo dos Sub-17, foi mais um dos exemplos mencionados pelo “The Athletic” no que concerne ao processo formativo.
“O Benfica convidou-me quando tinha 12 anos. Vim para o Benfica Campus quando tinha 14 anos, foi difícil, mas fiz amigos em duas ou três semanas. Temos profissionais que estão aqui [Benfica Campus] 24 horas e que nos explicam tudo o que queremos saber“, afirmou Francisco Machado, reforçando: “Sabemos que num grupo de 23 ou 24 jogadores, se três, quatro ou cinco chegarem à equipa principal, isso já será muito bom.”
Pedro Torrado, agora treinador dos Sub-12, após ter sido colega de equipa de João Cancelo e Bernardo Silva na Formação do Benfica, reconheceu que a paixão está também no processo.
“Talvez esteja aqui devido ao processo de educação do Benfica. Gosto deste tipo de trabalho, especialmente nestas idades [11 e 12 anos]. Adoro ver como se desenvolvem, como crescem e o que eles precisam para serem melhores”, frisou, explicando que a metodologia de treino difere nos grupos etários mais baixos, os quais até têm aulas de dança. “É um momento em que vemos a habilidade de um para um. Qual é o fator mais importante nestas situações? Para nós, não é a decisão, mas a qualidade do movimento. […] A dança é um programa que lhes dá ritmo e fluidez”, rematou Pedro Torrado.