
Quando no meio da festa no relvado, logo após o apito final, Rafael Leão chamou Gonçalo Ramos para juntos fazerem o gesto de imitar uma pistola com os dedos para a câmara de televisão, não estava apenas a divertir-se com o colega.
Estava a dizer ao mundo que agora já não tem razões para não conhecer aquele festejo.
No fundo a apresentação planetária de Gonçalo Ramos foi apenas um pormenor, no meio daquele turbilhão de emoções que foi a goleada da Seleção, mas foi um pormenor delicioso.
Como são todos os nascimentos, aliás: esta noite nasceu uma estrela, e assistir a todo esse processo chega a ser fascinante. Sobretudo para nós, que já o conhecemos relativamente bem.
Olhar para Gonçalo Ramos a entrar em campo com a cara fechada dá por exemplo para perceber a tensão que sentia. Não era para menos: não só ia ser titular pela primeira vez num Mundial, como o fazia para substituir uma lenda viva como é Cristiano Ronaldo.
O peso sobre os ombros do miúdo de 21 anos era seguramente brutal. Percebeu-se quando aos dezasseis minutos abriu o marcador com um golaço, correu para a linha lateral, disparou para o ar e foi abraçado pelos colegas. Depois abriu o sorriso e deu a impressão que se tinha livrado de uma pedra de duzentos quilos que carregava sobre as costas.