A derrota desta terça-feira na Luz, para a Liga dos campeões frente ao vice-campeão italiano do Nápoles, divide por esta altura a nação benfiquista. Por um lado, temos um registo inédito no clube, ao alcançar pela primeira vez na sua história os oitavos-de-final da competição milionária, desde que que mudou para o formato “Liga dos Campeões”. Feito este alcançado por apelidado de “não-treinador” e “sem cérebro”, que logrou tal marca nos dois anos de estreia no glorioso clube da Luz. Por outro temos um futebol sem chama e surpreendentemente vulnerável na defesa, e desperdiçador no ataque. Tudo com a culminação da segunda derrota consecutiva, algo que há muito não de via no Benfica desta década.
O título de campeão nacional, com o extra da Taça da Liga, e já no arranque desta temporada a adição de uma supertaça, dão a Rui Vitória uma almofada considerável para enfrentar o que resta da temporada, onde há muito ainda para jogar. No entanto, os inicialmente desconfiados das capacidades do ex-treinador do Vitória de Guimarães, aparecem sempre a franzir o olho nestas alturas.
O Benfica de facto tem tido um início de época algo atípico. Ao contrário de na temporada transacta, os encarnados começaram com um troféu (Supertaça), e pontos suficientes para liderar a nível interno. Já no que respeita à Europa, as dificuldades inerentes a um plantel desfalcado de diversos atletas, deu a conhecer uma equipa aguerrida mas deficitária de soluções atacantes. Gonçalo Guedes e o precocemente promovido José Gomes eram insuficientes para mexer com as defensivas contrárias.
Na estreia da competição, um Besiktas acessível apresenta-se na Luz, onde o desfalque encarnado na frente de ataque é notado com as várias oportunidades de golo falhadas. No final a sorte sorri aos turcos, com um golo de livre de Talisca e fim do jogo logo de seguida.
O descalabro vem na 2ª jornada. Aqueles 15 minutos fatais e fatelas em Nápoles, dão visibilidade ao que estava para vir. Serviu também para observação aos seguintes adversários, em como ultrapassar a até à altura defesa de betão encarnada. O Benfica que todos conhecemos estivera na primeira parte embora sem golos, por não ter avançados de área, e depois na meia-hora final, com os miúdos a conseguirem ainda fazer dois golos.
Com um ponto apenas, o Benfica jogava o tudo ou nada nos dois desafios que se seguiam frente aos ucranianos do Dínamo de Kiev. Só vitórias interessavam, e só vitórias foram alcançadas. Depois de “sacar” um triunfo (2-0) em Kiev, as águias aplicam a primeira derrota fora de portas ao campeão ucraniano. De repente o Benfica estava com 7 pontos e na luta pela qualificação novamente. Era altura para voltar a medir forças com os turcos do Besiktas, e até em caso de vitória, selar o apuramento.
O Benfica parecia estar de regresso às grandes noites europeias, à semelhança de na temporada anterior. No entanto, e apesar de cedo estar em vantagem de 3 golos em Istambul, o Benfica dos 15 minutos em Nápoles entra em campo e o empate a 3 bolas acaba por ser um mal melhor. Ainda bem que não houve mais jogo.
Chegamos então à semana onde a águia finalmente cai com estrondo. A nível interno, a turma de Rui Vitória perde finalmente uma partida para Liga ao fim de 26 jogos, e vê o rival Sporting aproximar. A moral teria de vir no desafio seguinte agora na Luz, mas frente à forte equipa napolitana, a quem bastava um empate para selar o apuramento. Ao Benfica só o triunfo dava essa garantia.E até não começou mal. Num jogo equilibrado, cedo se viu que a equipa de Sarr tinha a lição estudada, e a aposta destes era obviamente atacar pelo lado do adaptado André Almeida, assim também com a exploração da menor rapidez de Luisão. Duas portas de entrada para a área do Benfica, que já tinham sido observadas no Funchal. E foram de facto várias as chances do Nápoles para fazer golo com remates dentro da área benfiquista. Coisa rara nos últimos meses.
O pior inimigo à passagem do Benfica, e também ao resultado desta partida, estava no entanto em Kiev. Com o desastre turco na capital ucraniana, os encarnados ficam a saber que a passagem era já uma certeza, logo no intervalo. Os 4-0 do Dínamo sobre o Besiktas ao intervalo, com os turcos ainda desfalcados de um elemento por expulsão, tocaram na mente dos jogadores encarnados, que instintivamente começaram a poupar-se já a pensar no dérbi de domingo próximo. Erro que os napolitanos não cometeram, e assim aproveitam para fazer dois golos e ganhar assim o grupo e tentar fugir aos tubarões no sorteio para os oitavos-de-final. Depois de alguns assobios escutados da bancada, com alguns adeptos descontentes com a falta de atitude e convicção dos jogadores do Benfica, vieram os mais fieis puxar pela equipa. E foi nessa altura que Raúl Jiménez puxa da sua raça mexicana e reduz para 1-2.
O resultado tinha tudo para dar errado, não fora a goleada do Dínamo de Kiev em casa ao Besiktas de Quaresma, e Aboubakar (Talisca lesionado não jogou). Mas contra uma fratura com o passado recente já com Rui Vitória no leme da nau benfiquista, esteve um Dínamo de Kiev a mostrar-se talismã para dar aos encarnados a fatura inerente à passagem do Benfica aos oitavos-de-final da liga milionária. 6 milhões de euros encaixados, muito por culpa dos dois triunfos com a equipa ucraniana, onde mais nenhuma outra equipa conseguiu. Depois novamente o clube de Kiev a voltar a dar a mão no jogo final.
O Benfica tem agora pela frente um sorteio onde entra como apurado em segundo lugar no seu grupo, evitando equipas como Bayern Munique, Real Madrid, Paris Saint-Germain, Sevilha, Bayer Leverkusen e Manchester City. FC Porto e Nápoles são as outras equipas que por exclusão de partes não podem surgir no caminho dos encarnados. Muitos tubarões fora do caminho, mas ainda alguns na calha. No sorteio para a fase seguinte, podem calhar tanto o Atlético Madrid, como uma Juventus, um Arsenal ou até o Borússia Dortmund. Mais acessíveis às águias surgem ainda o Leicester, talvez o mais frágil destes todos, ou ainda Mónaco e finalmente o colosso do Barcelona.
Sorteio à parte, os jogos são apenas para Fevereiro/Março, e outro Benfica já deverá espalhar o seu perfume pelos relvados. Como dizia Rui Vitória na sua estreia pelo Benfica na época passada: “isto vai entrar nos eixos”.
Nuno Alexandre Costa